terça-feira, 11 de novembro de 2008

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O menino João não tinha mais que dez anos. Apesar de franzino e da pouca idade, era o centro das atenções entre os trabalhadores dos canaviais pertencentes aos engenhos de sua família, nas cidades de São Lourenço da Mata e Moreno. Neles, passou toda a infância. O "sinhozinho" era o único que sabia ler entre uma massa de trabalhadores analfabetos.
Nos dias de folga, os trabalhadores corriam até a feira para comprar folhetos de cordel. Com xilogravuras ilustrando as capas, os pequenos livretos traziam histórias de amor, traições, crimes, aventuras, milagres, recriações de clássicos e a violência do cangaço em forma de poesia popular. De volta ao engenho os trabalhadores pegavam o menino Jõao na casa grande. Ele era o responsável pelas melhores horas de lazer daqueles homens rudes, que passavam dias seguidos com uma única ocupação: o corte da cana. Logo, se fazia uma roda em torno do garoto responsável pelas sessões de leitura. O menino era colocado em cima de um carro-de-boi. O silêncio imperava. Todos ficavam atentos e cheios de espanto com as histórias dos versos de cordel recitadas por ele.
A cena se passa na Zona da Mata pernambucana nos anos 20 e fica para sempre nas lembranças de um dos maiores poetas da língua portuguesa, Jõao Cabral de Melo Neto. Cinco décadas depois, no final dos anos 70, ele transformou essa memória em poema.

Igor Sousa Soares

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